LITURGIA - SOLENIDADE DO CORPO DE DEUS

 


    A festividade do Corpo de Deus é a solene comemoração da instituição do Santíssimo Sacramento do Altar.

    Agradecemos e louvamos neste dia o amor de Jesus pelo dom inefável da Eucaristia. Propriamente é a Quinta-feira Santa o dia da instituição, mas á lembrança da Paixão e Morte do Salvador não permite expansões de alegria.

    A santa Missa composta pelo insigne teólogo e poeta, Santo Tomás de Aquino, é uma explicação das palavras da Sequência — Panis vivus et vitalis — Pão vivo e que dá vida. Dela fazem parte os trechos mais importantes da Sagrada Escritura sobre a Eucaristia (Epístola e Evangelho). No Introito agradecemos pelo alimento do céu, a Eucaristia. Ela é para nós “flor de trigo” e “mel do rochedo”, isto é, o Cristo, a lembrança de sua Paixão e de seu Amor (Oração). Celebrando a santa Missa anunciamos a morte do Cristo. E sob este aspecto, a Eucaristia é um verdadeiro Sacrifício (Epístola) e alimento sobrenatural (Gradual, Evangelho), símbolo da união e paz entre os fiéis (Secreta), e penhor da união com Deus (Communio). “Omnes in Christo unum”, “Todos somos um só (Corpo místico) em Jesus Cristo”.

Páginas 584 a 594 do Missal Quotidiano (D. Gaspar Lefebvre, 1963)

📖 Epístola aos I Coríntios 11, 23-29

    Irmãos: Do Senhor eu recebi o que também vos ensinei: que o Senhor Jesus, na noite em que foi entregue, tomou o pão, e, dando graças, partiu-o e disse: Tomai e comei: Isto é o meu Corpo que será entregue por vós; fazei isto em memória de mim. Igualmente, depois de haver ceando, tomou o cálice, dizendo: Este cálice é o novo Testamento em meu Sangue. Fazei isto todas as vezes que o beberdes em memória de mim. Porque todas as vezes que comerdes deste pão e beberdes este cálice, anunciareis a morte do Senhor, até que Ele venha. Portanto todo aquele que comer deste pão, e beber este cálice do Senhor indignamente, será réu do Corpo e do Sangue do Senhor. Examine-se, pois, a si mesmo, o homem, e assim coma deste pão e beba deste cálice. Porque o que come e bebe indignamente, come e bebe para si a condenação, não distinguindo [de outra comida], o Corpo do Senhor.


📖 Evangelho segundo São João 6, 56-59

    Naquele tempo, disse Jesus às multidões dos judeus: Minha Carne é verdadeiramente comida e meu Sangue é verdadeiramente bebida. Quem come a minha Carne e bebe o meu Sangue, permanece em mim e eu nele. Assim como o Pai que vive, me enviou, e eu vivo pelo Pai, assim também, o que me comer viverá por mim. Este é o pão que desceu do céu. Não como o maná que os vossos país comeram, e contudo morreram. Quem comer deste pão viverá eternamente.


MEDITAÇÃO 

Exulta et lauda, habitatio Sion; quia magnus in medio tui Sanctus Israel – “Exulta e louva, morada de Sião, porque o Grande, o Santo de Israel, está no meio de ti” (Is 12, 6)

Sumário. Para celebrarmos com fruto a Solenidade do Corpo de Deus, conformemo-nos ao espírito da Igreja, que com a instituição da festa de hoje quis tributar a seu divino Esposo um tríplice preito: primeiro, um preito de veneração, em compensação das humilhações a que se sujeitou por nós; segundo, um preito de gratidão, pelo dom tão grande da Santíssima Eucaristia; terceiro, um tributo de reparação, para desagravá-Lo das injúrias que continuamente recebe neste divino Sacramento.

I. Consideremos os elevados fins que nossa Mãe a santa Igreja teve em mira pela instituição da festa do Santíssimo Sacramento com oitava solene. Com todo esse esplendor de missas, procissões e outros exercícios piedosos, ela quer tributar a seu divino Esposo um tríplice preito, de veneração, de gratidão e de reparação.

Um preito de veneração para compensar-Lhe de algum modo o estado de aniquilamento e humilhação a que se quis sujeitar e ainda se sujeita continuamente para ficar conosco sobre os altares; onde, na palavra de São Bernardo, esconde a sua divindade, esconde também sua humanidade, só deixando ver as aparências de pão para assim patentear a ternura do amor que nos tem: Latet divinitas, latet humanitas, sola patent viscera caritatis.

Quis a Igreja também tributar a Jesus Cristo um preito de gratidão, por um dom tão grande, no qual fez o supremo esforço de seu amor para com os homens. — “O Esposo”, diz São Pedro de Alcântara, “para consolar a sua Esposa durante a sua longa ausência, quis dar-lhe uma companhia; e instituiu este Sacramento, no qual reside em pessoa: era a melhor prova que lhe podia dar do seu amor”. Justo pois era que a Igreja excitasse os fiéis, seus filhos, por uma solenidade especial a agradecerem a Jesus sua amorosa presença e a venerarem com afetos de gratidão.

Finalmente, com a festa de hoje, a Igreja quer tributar a Jesus um preito de reparação, afim de O desagravar de tantas ofensas que Ele recebe continuamente neste divino Sacramento. A Igreja vê que a maior parte dos homens recusa adorá-Lo e reconhecê-Lo pelo que é neste adorável mistério. Sabe que mais de uma vez estes mesmos homens chegaram a calcar aos pés as hóstias consagradas, a lançarem-nas ao lodo, à água, ou às chamas. O que mais a aflige é ver que também a maior parte dos que creem na Eucaristia, em vez de repararem tantos ultrajes por testemunhos de respeito e piedade, vêm aumentar a dor de Jesus pelas suas irreverências nas igrejas, ou deixam-No só sobre o altar, desprovido por vezes de lâmpada e dos ornamentos mais indispensáveis. Oh, que negra ingratidão!

II. Meu irmão, procura conformar-te ao espírito da Igreja e tributa a Jesus o tríplice preito de veneração, de gratidão e de reparação, assistindo com fé ás missas e outros exercícios piedosos, aproximando-te da santa comunhão e visitando-O nestes dias com mais freqüência.

† Senhor meu Jesus Cristo, que por amor dos homens ficais noite e dia no Sacramento do altar, onde, cheio todo de misericórdia e bondade, chamais e acolheis todos os que Vos vêm visitar: eu creio que estais presente neste Sacramento. Desde o abismo de meu nada, Vos adoro, e graças Vos dou por todos os benefícios que me tendes feito; especialmente porque Vos destes a mim neste Sacramento, me concedestes por advogada vossa Mãe, a Santíssima Virgem Maria, e me chamastes a Vos visitar nesta igreja. Saúdo hoje o vosso Coração amantíssimo e quero saudá-lo por três fins: 1º. em reconhecimento deste grande dom; 2º. em reparação de todos os ultrajes que dos vossos inimigos tendes recebido neste Sacramento; 3º. na intenção de Vos adorar, por esta visita, em todos os lugares do mundo, onde sois menos reverenciado e mais abandonado neste Sacramento.

Amo-Vos, meu Jesus, de todo o meu coração. Pesa-me, de ter, no passado, desagradado tantas vezes vossa bondade infinita. Proponho, com o socorro de vossa graça, não Vos ofender mais no futuro. E nesta hora, miserável como sou, me consagro todo a Vós; eu Vos dou e sacrifico minha vontade, meus afetos, meus desejos e todos os meus interesses. D’ora avante fazei de mim, e de tudo que é meu, o que for de vosso agrado. Somente peço e quero o vosso santo amor, a perseverança final e a graça de cumprir perfeitamente a vossa vontade, — Recomendo-Vos as almas do purgatório, principalmente as mais devotas do Santíssimo Sacramento e de Maria Santíssima. Recomendo-Vos também todos os pobres pecadores. Enfim, amadíssimo Salvador meu, uno os meus afetos aos afetos do vosso Coração amantíssimo, e assim unidos, ofereço-os a vosso Eterno Pai, pedindo-Lhe em vosso nome que por vosso amor se digne de os aceitar e atender (1).

Referências:

(1) Indulg. de 300 dias cada vez; indulgência plenária uma vez por mês.

Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo II: Desde o Domingo da Páscoa até a Undécima Semana depois de Pentecostes inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 151-154. Santo Afonso Maria de Ligório


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