IX Domingo depois de Pentecostes

 


Epístola

Lição da Ep.ª do B. Ap.º Paulo aos Coríntios.

1 Cor. 10, 6-13

Meus irmãos: Não sejamos concupiscentes das coisas más, como nossos antepassados, nem vos torneis idólatras, como alguns deles, a respeito dos quais está escrito: «Assentou-se o povo para comer e beber, e levantou-se para se divertir». Não cometamos, pois, ações impuras, como alguns deles o fizeram, pelo que pereceram em um só dia vinte e três mil. Não tentemos a Cristo, como alguns deles tentaram, pelo que pereceram de mordeduras de serpentes. Não murmureis, como alguns deles murmuraram, pelo que foram feridos mortalmente pelo Anjo exterminador. Todas estas coisas eram como que figuras, e foram escritas para advertência de nós, que viemos no fim dos tempos. Aquele, pois, que crê estar seguro, tenha cuidado, não caia. Nenhuma tentação nos sobreveio que não fosse humana; porém, Deus é fiel e não permitirá que sejais tentados além das vossas forças, mas antes fará que tireis proveito da tentação, a fim de que possais suportá-la.


Evangelho

Continuação ☩ do santo Evangelho segundo S. Lucas.

Lc 19, 41-47

Naquele tempo, havendo Jesus chegado próximo de Jerusalém e vendo esta cidade, chorou sobre ela, dizendo: «Ah! se tu, ao menos neste dia, que te foi dado, conhecesses o que te pode dar a paz!... Mas, entretanto, tudo está oculto a teus olhos! Pois virão dias infelizes para ti, em que os teus inimigos te cercarão de trincheiras, te sitiarão e te fecharão por todos os lados. Então, te destruirão completamente, assim como aos teus filhos, que estão dentro de ti, não deixando pedra sobre pedra. Porquanto não quiseste conhecer o tempo em que foste visitada». Depois Jesus entrou no templo, expulsando aqueles que lá vendiam ou compravam; e dizia-lhes: Está escrito: «Minha casa é casa de oração, fizestes dela caverna de ladrões!». E Jesus ensinava todos os dias no templo.


MEDITAÇÃO 

Ut appropinquavit (Iesus) videns civitatem, flevit super illam – “Quando (Jesus) chegou perto, ao ver a cidade chorou sobre ela” (Lc 19, 41)

Sumário. Infeliz da alma que se obstina no pecado ou na tibieza. Adiando a sua conversão de dia para dia, achar-se-á na hora da morte, assim como Jerusalém, cercada de inimigos, que serão os remorsos da consciência, os assaltos dos demônios e os receios da condenação eterna. Desta sorte a sua ruína será quase certa e irreparável. Meu irmão, para que não te suceda tamanha desgraça, reconhece agora o tempo da visitação amorosa do Senhor e obedece prontamente a seu convite. Quem sabe se não é este o último?

I. Refere São Lucas que:“quando Jesus chegou perto de Jerusalém, ao ver a cidade chorou sobre ela e disse: Ah! se ao menos neste dia, que agora te é dado, conhecesses ainda tu o que pode trazer-te a paz! Mas por ora tudo está encoberto a teus olhos. Porque virão dias para ti, em que os teus inimigos te cercarão de trincheiras, e te sitiarão, e te apertarão por todos os lados. E te derribarão por terra a ti e a teus filhos, e não deixarão em ti pedra sobre pedra, porquanto não conheceste o tempo da tua visitação: Eo quod non cognoveris tempus visitationis tuae“.

Sob a figura da Jerusalém material, os Santos Padres veem a alma do pecador obstinado ou ainda a alma do que é tíbio. Estas almas descuidadas, semelhantes aos desgraçados habitantes daquela cidade infeliz, desprezam o tempo da visitação do Senhor e se obstinam em não quererem obedecer à voz de Deus, que por meio dos superiores, dos diretores espirituais ou das inspirações interiores os excita a emendarem a sua vida desregrada.

Os desgraçados! O Redentor tem muita razão em derramar por causa deles lágrimas copiosas, porque mais cedo ou mais tarde lhes tocará a mesma sorte da ímpia cidade de Jerusalém: Circumdabunt te inimici tui vallo (1) – “Os teus inimigos te cercarão de trincheiras”. Eles vão adiando a sua conversão de dia para dia, e afinal, na hora da morte, ver-se-ão cercados pelos seus inimigos, isso é, pelos remorsos da consciência, pelos assaltos dos demônios e pelos receios da condenação eterna, de tal forma que a sua ruina será quase certa e irreparável. Infeliz, pois, de quem se obstina no pecado ou na tibieza.

II. Meu irmão, afim de que na hora da morte não te suceda tamanha desgraça, reconhece agora o tempo da visitação amorosa do Senhor e obedece de pronto ao seu convite. Quem sabe se a leitura desta meditação não é para ti a última. Quero supor que estejas na graça de Deus; porém, olha que não sejas do número daqueles tíbios, que pelas suas negligências habituais causam a Deus tão grande náusea que começa a vomitá-los de sua boca. Quia tepidus es, neque frigidus, neque calidus, incipiam te evomere ex ore meo (2) – “Já que és tíbio, e não frio nem quente, começarei a vomitar-te de minha boca”.

Meu amabilíssimo Jesus, não quero esperar até a hora da morte para recorrer a Vós, meu Bem infinito. Reconheço que pela minha tibieza mereci ser abandonado de Vós, privado de vossa luz e desamparado de vossa graça. Mas ao ver que hoje me visitais tão amorosamente, mostrando-me as lágrimas que derramais sobre a minha ruína eterna; ao ouvir também a vossa voz, que por meio desta meditação de novo me convida ao vosso amor, não quero desanimar e volto arrependido a lançar-me em vossos braços paternais.

Perdoai-me, ó Senhor, já que abomino e detesto, acima de todos os males, as ofensas, quer grandes quer pequenas, que Vos fiz. Antes tivesse eu morrido mil vezes do que cometê-las. Proponho para o futuro amar-Vos sempre de todo o coração e cumprir em todas as coisas a vossa santíssima vontade. Dai-me a santa perseverança.

– “Rogo-Vos, ó Senhor, que os ouvidos de vossa misericórdia estejam sempre abertos às minhas preces; e, para que me possais conceder sempre o que Vos peço, fazei que eu só peça o que for do vosso agrado.” (3)

Suplico-Vos esta graça pelos vossos merecimentos e pela intercessão da minha querida Mãe, Maria.

Referências:

(1) Lc 19, 43

(2) Ap 3, 15

(3) Or. Dom. curr.

(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo II: Desde o Domingo da Páscoa até a Undécima Semana depois de Pentecostes inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 285-287)

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