XXII DOMINGO DEPOIS DE PENTECOSTES


EPÍSTOLA DE SÃO PAULO AOS FILIPENSES

📖 - Philip I. 6-11

"Irmãos: Tenho firme confiança no Senhor Jesus, que Aquele que em vós começou a boa obra, há de completá-la até o dia do Cristo Jesus. É justo que eu tenha este sentir de vós todos, porque vos tenho no coração, e quer em minhas prisões, quer na defesa e continuação do Evangelho, todos sois participantes de minha alegria. Deus me é testemunha da ternura com que amo a todos vós no afeto íntimo de Jesus Cristo. O que Lhe peço é que a vossa caridade aumente mais e mais, em conhecimento e compreensão, para que aprecieis o que é melhor; a fim de que sejais puros e sem mancha para o dia do Cristo, cheios de frutos de justiça, por Jesus Cristo, para a glória e louvor de Deus."


SEQÜÊNCIA DO SANTO EVANGELHO SEGUNDO SÃO MATEUS

📖 - Matth XXII. 15-21

"Naquele tempo, retiraram-se os fariseus para consultarem entre si a ver como apanhariam a Jesus em alguma palavra. E enviaram-Lhe seus discípulos com alguns herodianos, dizendo: Mestre, sabemos que sois amigo da verdade e ensinais o caminho de Deus, segundo a verdade, sem Vos preocupardes com quem quer que seja, porque não julgais o homem segundo a sua carne. Dizei-nos, pois, o vosso parecer. É lícito pagar o tributo a César, ou não ? Conheceu porém, Jesus, a sua maldade, e disse: Porque me tentais, hipócritas? Mostrai-me a moeda do tributo. Eles Lhe apresentaram um dinheiro. E Jesus lhes disse: De quem é esta imagem e esta inscrição? Responderam-Lhe: De César. Então Ele lhes replicou: Daí, pois, a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus."


MEDITAÇÃO  PARA O VIGÉSIMO SEGUNDO DOMINGO DEPOIS DE PENTECOSTES

O TRIBUTO DE CÉSAR E A OBRIGAÇÃO DE AMAR A DEUS

📖 - Matth XXII. 21

"Reddite quæ sunt Cæsaris Cæsari, et quæ sunt Dei Deo"

"Dai a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus"

Sumário

Para convencer os fariseus da obrigação de pagarem tributo a Cesar, o divino Redentor mostrou-lhes a imagem estampada na moeda com que costumavam pagar o tributo. Lancemos nós também um olhar sobre nós mesmos: consideremos que fomos criados por Deus à sua imagem e semelhança; lembremo-nos mais que no santo batismo nos foi impresso o caráter indelével de discípulos de Jesus Cristo, e facilmente chegaremos a esta bela conclusão: Dai a Deus o que é de Deus.

I. É esta a bela resposta que no Evangelho de hoje Jesus Cristo dá aos fariseus, que, com o intuito maligno de o apanharem em suas palavras, o interrogavam sobre se era ou não lícito pagar o tributo: "Dai a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus". Por estas palavras quer ensinar-nos que devemos dar aos homens o que ele o quer todo para si.

Isto é de inteira justiça, porque o Senhor não é somente a primeira Verdade, mas além disso o supremo Bem. Como portanto o nosso entendimento paga a Deus, como à primeira Verdade, o tributo de submissão pela fé, crendo sobre a palavra de Deus coisas que não compreende; assim a nossa vontade deve pagar a Deus, como ao Bem supremo, um tributo de afeto, "(...) amando-o com todo o coração, com toda a alma e com todas as forças" (1). Tanto mais que é unicamente para cativar o nosso amor que Jesus se fez homem, nos remiu com o seu preciosíssimo sangue e morreu sobre a cruz nos mais atrozes tormentos.

Ó meu lastimoso Redentor! Quantos são os que Vos amam? Vejo a maior parte dos homens ocupados em amarem, uns os parentes, outros os amigos, outros até os animais; mas Jesus não é amado; ao contrário, é ofendido e pago com a mais negra ingratidão. – Meu irmão, quero crer que te achas em estado de graça e por isso quero crer que amas Jesus Cristo. Podes, porém, dizer que o amas de todo o teu coração?… És porventura um daqueles que, levando vida tíbia, nutrem a ilusão de poderem servir ao mesmo tempo a dois senhores inteiramente opostos, como são Deus e o mundo? – Ah! Lembra-te, assim te direi com São Felipe Neri, que todo o amor que consagramos às criaturas é roubado de Deus; se não cuidarmos em séria emenda, acabaremos cedo ou tarde por o roubarmos todo.

II. Observa o Evangelho que, para convencer os fariseus da necessidade de pagar o tributo, Jesus se fez mostrar a moeda do tributo, e referindo-se a ela, disse:

"De quem é esta imagem e inscrição?"

E tendo eles respondido: "É de César", o Senhor logo acrescentou: "Dai, pois, a César o que é de César". Como se dissesse: Já que do imperador recebestes a moeda, justo é que lhe restituais pagando o tributo.

É o que tu também deves fazer para que mais facilmente te resolvas a pagar teu tributo a Deus. Pergunta muitas vezes a ti mesmo: Cuius est hæc imago et superscriptio? – "De quem é esta imagem e inscrição?". Quer dizer: Põe-te a considerar que foste criado por Deus à sua imagem e semelhança e para o único fim de o amares; considera mais que no santo Batismo te foi impresso o caráter indelével de discípulo de Cristo; e logo chegarás à conclusão que deves dar a Deus o que é de Deus: Reddite ergo quæ sunt Dei, Deo.

Ó meu Senhor, visto que me quereis todo para Vós, eis que me dou a Vós todo inteiro, sem reserva. Não quero que outro qualquer me roube uma parte deste coração que Vos criastes só para Vós, ó bondade infinita, digna de amor infinito. O meu coração é muito pequeno para Vos amar tanto como mereceis. Que injustiça, pois, não Vos faria, se o quisesse dividir para amar outra coisa que não seja Vós? Não, meu Jesus amabilíssimo, só a Vós quero amar, e nesta vida e na outra nada desejo senão o tesouro de vosso amor, ó Deus de meu coração e minha herança para sempre *(2).*

Não desprezeis o amor de um pecador que outrora Vos ofendeu; abrasai sempre mais em mim as felizes chamas do amor, e sede em toda ocorrência o meu refúgio e a minha força.

– "Ó Pai Eterno, pelo amor de Jesus Cristo atendei-me, pois que sois o mesmo autor da piedade, e fazei que eficazmente consiga o que Vos peço com viva confiança" (3).


† Doce Coração de Maria, sede minha salvação.


Referências:

(1) 📖 - Deut VI. 5

(2) 📖 - Psalm XV. 5

(3) Or. Dom. curr.

📓 - (LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo III: Desde a Décima Segunda Semana depois de Pentecostes até o fim do ano eclesiástico. Friburgo: Herder & Cia, 1922, p. 207-209)

Comentários